Sopranos e a Vida Real







A família italiana é vista tradicionalmente como muito viva, unida. Vemos ao longo da série que todos se tratam com abraços, beijos, procuram sempre manter contato através dos jantares, especialmente aos domingos, e tudo o mais.... e tudo aparências.

Podemos fazer um paralelo da série com a vida real.

Na ficção tudo tem um preço, o que mais importa é o dinheiro. A par disso, todos são muito amigos... APARENTEMENTE. É aquilo que já foi mostrado no filme "Bons Companheiros" (Goodfellas, 1990) e repetido nos Sopranos, eles se reúnem, conversam, bebem, comem, riem, estão sempre juntos...mas na verdade, ninguém pensa duas vezes antes de passar a perna em alguém e tirar alguma vantagem, seja dinheiro ou status com o chefe/família (como quando Chris roubou a ideia de Paulie no hospital, com relação a presentear Tony com um rádio). E esses mesmo amigos, integrantes da "família", que ainda pouco estavam rindo, se divertindo, partilhando a vida dos filhos e netos (batizados, crismas, casamentos, etc.) acabam se matando, rompendo longos vínculos, vide as mortes (assassinatos) de Pussy, Jackie jr, Ralph, Tony Blundetto, Adriana e Christopher .

Na vida real não é muito diferente.

Todos temos que ralar para ganhar o pão. Vivemos em uma sociedade competitiva onde, de certa forma, tudo tem um preço também (até o que é ilegal, se formos pensar bem). E todos fazemos reinar o império do eu sobre o outro. Mecânicos cobram o que querem em peça sobre peça, um bancário vende o dia inteiro "produtos" para clientes que ele jamais ofereceria para seus pais ou chegados, médicos convencem grávidas a fazerem cesarianas, pois assim ganham mais (até tempos atrás), e por esse rumo seguem os vendedores, advogados, engenheiros...

E todos também temos uma família da qual somos muito próximos...fisicamente apenas, geralmente. Por todo lado vemos casais juntos há anos que mal se conhecem, que discutem por mesquinharias, pais que não dão atenção a seus filhos, que se relacionam com eles através de presentes, filhos que só veem defeitos nos pais, que lamentam o fato de seus pais e sua família não serem como desejam. A característica ruim mais notável da maioria das famílias é a falta de afetividade entre seus membros, não apenas falta de um canal íntimo de comunicação, mas falta geral de afeto, atenção, de ouvir e responder ternamente, só há relacionamentos secos, irônicos, grosseiros.

Na série todos os relacionamentos são baseados em mentiras. Todos fingem se importar com a vida do outro. Vemos bem isso quando Tony parou de ir às consultas com a Melfi e tentou conversar com seus "amigos" sobre seus sentimentos (ou sobre como estava lidando com sua vida na época) . (As relações menos mentirosas de Tony era com Carmela e a Dr. Melfi; na vida real normalmente uma pessoa tem uma comunicação melhor com seu conjugue e com sua mãe/pai).

E todos temos muitos "amigos", pessoas que passamos algum tempo juntos, rindo, se divertindo, mas com quem em 5 anos provavelmente nem teremos mais contato, não passarão de amigos... no Facebook. Nãos os matamos, o tempo o faz, e assim vemos que não eram mesmo nossos amigos, se não apenas bons companheiros.