(S06E21) "Made in America" e o Terrorismo


As referências à guerra americana contra o terrorismo e o Iraque tornaram-se mais proeminentes nos últimos episódios  [o consumo de petróleo pelos americanos também é pano de fundo]



Terrorismo, 9/11 e a guerra dos Estados Unidos no Iraque são constantemente referenciados na temporada final. No entanto, nos últimos episódios, e especificamente no episódio final "Made in America", as referências se acumulam em um ritmo febril. Isto é ilustrado principalmente através de AJ, que começa a ter uma nova compreensão do Oriente Médio e torna-se obcecado com a Al Qaeda e a possibilidade de que armas de destruição em massa poderiam ser usadas nos Estados Unidos.


A trupe de Tony procura por Phil em vários postos de gasolina, incluindo um posto Gulf / Golfo. Numerosos SUV's (simbólico da dependência da América do petróleo estrangeiro) são destacados no episódio. Um SUV esmaga a cabeça de Phil depois que ele é baleado. No mesmo posto, uma bandeira americana é continuamente vista na cena. SUV de AJ explode quando está estacionado em folhas secas. Depois da bronca de Tony,  AJ diz que vai pegar ônibus porque os EUA são muito dependentes de petróleo estrangeiro. O agente Harris é mostrado mais tarde assistindo a um vídeo de Al Qaeda. AJ é visto deixando seu novo emprego em "Lone Wolves Productions" (o título e o logotipo da empresa são claramente vistos na porta). O "lobo solitário" é um termo comum para um terrorista que age sozinho, geralmente suicida. 


AJ flerta em se alistar e vemos a agonia de seus pais. Na época, os EUA estavam vivendo esse debate, jovens americanos pobres eram enviados para lutar e morrer em uma guerra que tinha motivos financeiros estratégicos ocultos, enquanto as famílias dos governantes belicosos não enviavam seus filhos.


Um AJ irritado diz a amigos e familiares no funeral de Bacala que a América está muito distraída assistindo TV para perceber o que realmente está acontecendo. Ele diz que a América deixou Bin Laden escapar e que o ideal do sonho americano (amercian dream*) foi perdido para o materialismo. Ele sugere que algo apocalíptico está chegando e cita Yeats: "Que besta áspera se arrasta rumo a Belém para nascer?"

* “A igualdade de oportunidades e de liberdade que permite que todos os residentes dos Estados Unidos atinjam seus objetivos na vida somente com seu esforço e determinação”


Ob: O patriotismo é exacerbado no episódio final, refletindo, além da questão do terrorismo (isto é, o significado de união, devido a guerra contra o inimigo estrangeiro, a Al Qaeda, exposto em todo o episódio), a abrangência da série toda: The Sopranos é "uma análise do que é ser americano e viver no moderno mundo".




A cena final em Holsten é certamente "Made in America"




O restaurante e seus clientes podem ser localizados em qualquer cidade americana. Os esportes típicos do colegial são destacados na parede traseira, personagens típicos americanos preenchem as mesas: um casal adolescente apaixonado, um grupo de escoteiros e um caminhoneiro de boné. Comidas clássicas americanas estão sendo servidas/preparadas: hambúrgueres, refrigerantes, anéis de cebola. PORÉM...a presença de um homem com semblante firme (lembre-se que Tony zombava Phil dizendo que ele era parecido com o Xá do Irã) e olhares repetidos para a mesa da família Soprano trazem a cena uma sensação de desgraça iminente.. .ninguém no restaurante está preparado para lidar com um agressor, estão totalmente despreparados, como comumente estão as vítimas de atentados terroristas.

E também a Guerra do Iraque foi criada nos EUA, em busca do petróleo para manter um modo de vida extremamente confortável e consumista, evidenciado sobretudo por excesso de COMIDA e por CARROS de luxo. 

Tony e sua família representam o "conforto" que os americanos têm. AJ tem sua nova BMV e Meadow seu Lexus. Tony está concentrado analisando as várias opções do menu e não se atenta para checar sua segurança.


Assim, o final, atenta para o fato de os americanos não estarem preparados para lidar com o terrorismo,  revela também, com o fim em tela preta, nessa perspectiva, a cegueira dos americanos diante da ameaça iminente.




Figuração do 11 de Setembro no último episódio 



Tony está estacionado com Paulie esperando o agente Harris perto de um aeroporto e um jato é mostrado aterrissando assustadoramente próximo ao SUV de Tony, ecoando o 11 de setembro. Tony fala com o Agente Harris sobre os árabes com quem Christopher fez negócios. Harris relata a Tony que ele está estressado porque acredita que os terroristas podem estar testando o tempo de resposta do FBI no Aeroporto de Newark. A neve caindo na cena ecoa os detritos das torres em chamas e as cinzas cobertas no centro de Manhattan. Um segundo avião é ouvido em cima enquanto Tony está conversando com Harris, referindo-se aos dois aviões que atingiram o World Trade Center (apenas dois aviões são mostrados e ouvidos na cena). Na cena seguinte, Tony visita Carmela na casa provisória e ela está preocupada com o cheiro "tóxico" da casa, referência aos cheiros tóxicos do centro de Manhattan nas semanas e meses seguintes ao 11 de setembro.